domingo, 26 de agosto de 2012

Teosofia: Conhecimento Divino(Deuses)

O QUE É A TEOSOFIA?

Helena P. Blavatsky


Uma das fundadoras da Sociedade Teosófica, autora de extensa obra literária sobre espiritualidade, religiões, simbolismo universal, etc.

(Artigo publicado por Helena Petrovna Blavatsky no primeiro número do "The Theosophist", em outubro de 1879, que acabara de fundar para ser o órgão oficial da Sociedade Teosófica)
         
            A pergunta tem sido formulada tantas vezes, e o assunto vem sendo de um modo geral tão mal interpretado que os editores de uma publicação devotada à exposição da Teosofia sentir-se-iam culpados se este primeiro número fosse publicado sem que chegassem a um perfeito entendimento com seus leitores. No entanto, nosso título abrange duas perguntas: O que a Sociedade Teosófica? E o que são os Teosofistas? Vamos rfespondê-las.
            Segundo os lexicógrafos, o termo Theosophia compõe-se de duas palavras gregas -Theos, “deus”, e Sophos, “sábio”. Até aí, muito bem. Mas, as explicações que dão a seguir estão muito longe de oferecer uma noção suficientemente clara sobre a Teosofia. Webster, de um modo muito original, define-a como sendo “uma pretensa comunicação com Deus e com os espíritos superiores, e a conseqüente conquista de um conhecimento superhumano tanto por processos físicos como pelas operações teúrgicas de certos platônicos antigos ou, ainda, pelos processos químicos dos filósofos alemães do fogo”.
            Essa definição, em última análise, não passa de uma pobre e irreverente explicação. Atribuir idéias dessa natureza a homens como Amônio Saccas, Plotino, Jâmblico, Porfírio, Proclo e outros, demonstra ou uma deformação intencional ou ignorância de Webster no tocante à Filosofia e aos objetivos dos maiores gênios da Escola Neoplatônica de Alexandria. Imputar àqueles e a quem tanto os coevos quanto a posteridade chamaram de “Theodidaktoi”- instruídos por Deus - a intenção de desenvolver sua percepção psicológica e espiritual por “processos físicos” eqüivale a apresentá-los como materialistas. E quanto à alusão final aos filósofos do fogo, é o mesmo que situá-los entre os nossos mais eminentes e modernos cientistas, aqueles em cujos lábios o Rev. James Martineau põe a seguinte fanfarronada: “A Matéria é tudo que desejamos; dêem-nos apenas átomos e nós explicaremos o Universo”.
            Vaughan, porém, oferece uma definição muito melhor e mais filosófica: “Um teosofista”- observa - “é aquele que propõe uma teoria de Deus ou das obras de Deus, que não pretende dispor de uma revelação mas, sim, de uma inspiração pessoal como base dessa teoria”. De acordo com essa opinião, todo grande pensador e filósofo, especialmente cada fundador de uma nova religião, de uma nova escola filosófica ou de uma seita, é necessariamente um teosofista. Portanto, Teosofia e Teosofistas sempre existiram desde que os primeiros lampejos do incipiente intelecto humano levaram o homem a procurar instintivamente os meios de expressar opiniões pessoais e independentes.
            Teosofistas já existiam antes da era cristã, muito embora os autores cristãos atribuam o desenvolvimento do sistema teosófico eclético aos primeiros anos do século III de nossa era. Diógenes Laércio assinala a existência da Teosofia numa época anterior à dinastia dos Ptolomeus; e cita como seu fundador um Hierofante egípcio chamado Pot-Amun, nome copta que designa um sacerdote consagrado a Amon, o deus da Sabedoria. A história, porém, mostra que ela foi revivida por Amônio Saccas, o fundador da Escola Neoplatônica de Alexandria. Ele e seus discípulos faziam-se chamar “Philaletéios”, ou amantes da verdade, enquanto eram chamados por outros de “Analogistas”, devido ao método de interpretar todas as lendas sagradas, os mitos simbólicos e os Mistérios por uma lei ou analogia ou correspondência segundo a qual todos os fatos ocorridos no mundo exterior eram encarados como a expressão de outras tantas operações e experiências da alma humana. Amônio Saccas tinha como ideal e objetivo reconciliar todas as seitas, todos os povos e nações sob uma fé comum - a crença num Poder Supremo, Eterno, Desconhecido e Inominado que o governa o Universo através de leis eternas e imutáveis. Seu objetivo consistia em experimentar um sistema de Teosofia que, de início, era essencialmente o mesmo em todos os países; induzir os homens a abandonarem suas lutas e querelas tornando-se unos em ideais como filhos da mesma mãe; purificar as velhas religiões corrompidas e falseadas de todas as impurezas do elemento humano, unificando-as e explicando-as sobre puros princípios filosóficos. Por isso, os sistemas Budista, Vedantino e Mago, ou Zoroastrino, eram ensinados na Escola Teosófica Eclética juntamente com todas as filosofias da Grécia. Por isso, também, aquela característica proeminentemente Budista e Hindu registrada entre os antigos teosofistas de Alexandria no tocante ao respeito devido aos pais e aos mais velhos; a afeição fraternal por toda a raça humana; e um sentimento compassivo até pelos animais irracionais. Ao mesmo tempo em que procuravam estabelecer um sistema de disciplina moral que incutia no povo a obrigação de viver segundo as leis dos respectivos países; purificar a mente pela busca e contemplação da única Verdade Absoluta; seu principal objetivo que, acreditava, conquistaria todos os demais, consistia em extrair dos diversos ensinamentos religiosos, como de um instrumento de muitas cordas, uma harmonia perfeita e melodiosa capaz de ecoar em todo coração verdadeiramente amante da verdade.
            Portanto, Teosofia é a arcaica Religião Sabedoria, a doutrina esotérica que já era conhecida em todo país pretensamente civilizado. Uma “Sabedoria” que todas as velhas escrituras mostram como emanação do princípio divino e cuja absoluta compreensão é tipificada por nomes como o do Buda hindu, o Nebo babilônico, o Thot de Menfis, o Hermes da Grécia, e ainda nas invocações de algumas deusas - Metis, Neitha, Athena, a Sophiagnóstica e, finalmente, nos Vedas, do verbo “saber”. Sob essa designação, todos os filósofos do oriente e Ocidente, os Hierofantes do velho Egito, os Rishis da Aryavarta, os “Theodidaktoi” da Grécia incluíam todo o conhecimento das coisas ocultas e essencialmente divinas. As séries secular e popular da Mercavah dos Rabinos hebreus eram, assim, designadas como sendo apenas o veículo, a capa externa que continha o conhecimento esotérico superior. Os Magos de Zoroastro eram instruídos e iniciados nas cavernas e lojas secretas da Bactriana; Os Hierofantes egípcios e gregos possuíam as suas aporrêtas, ou instruções secretas, durante as quais os Mystês se transformava num Epoptês - um Vidente.
            A idéia básica da Teosofia Eclética resumia-se na existência de uma Essência Suprema, Desconhecida e Incognoscível, porque - “Como pode alguém conhecer o conhecedor?”, como pergunta o Brihadaranyaka Upanishad. Seu sistema caracterizava-se por três postulados perfeitamente distintos: a teoria da Essência acima mencionada; a doutrina da alma humana - emanação daquela e, portanto, da mesma natureza; e sua teurgia. Foi esta última ciência que levou os Neoplatônicos a serem tão mal interpretados nesta nossa era de Ciência materialista. Sendo a Teurgia essencialmente a arte de aplicar os poderes divinos do homem ao domínio das forças cegas da natureza, seus adeptos foram inicialmente chamados de mágicos - corrupção da palavra “Magh”, que significa sábio ou erudito - e ridicularizados se sorrissem a idéia do fonógrafo ou do telégrafo. Os que são ridicularizados e acoimados de “infiéis” de uma geração geralmente se transformam nos ‘sábios e santos’ da geração seguinte.
            No tocante à Essência Divina e à natureza da alma e do espírito, a moderna Teosofia acredita, hoje, nas mesmas coisas em que acreditava a Teosofia do passado. O popular Diu das nações arianas era idêntico ao Jahve dos samaritanos, ao Tiu ou “Tuisto” dos nórdicos, ao Duw dos bretões, e ao Zeus dos trácios. Quanto à Essência Absoluta, o Uno e o Todo, se aceitarmos o que dizem a respeito o Pitagorismo grego, o Kabalismo caldáico ou a Filosofia Ariana, tudo isso levará a um resultado único e igual. A Mônada Primeva do sistema pitagórico que se retira no interior da obscuridade e é a própria Obscuridade (para o intelecto humano) era apresentada como base de todas as coisas; e podemos encontrar a mesma idéia em toda a sua integridade no sistema filosófico de Leibnitz e Espinosa. Portanto, quer um Teosofista concorde com a Kabala, que referindo-se a En-Soph pergunta: “Então, quem pode compreendê-la, uma vez que Ela não tem forma e Não existe?” ou, recordando este magnífico hino do Rig-Veda, pergunta:
            "Quem sabe de onde surge essa grande criação? Se sua vontade criou ou permaneceu muda. Ele sabe - ou, talvez, nem Ele mesmo saiba”.
            ou ainda, aceita a concepção vedantina de Bhrama, que nos Upanishads é representado como “sem vida, sem mente, puro”, inconsciente, uma vez que Bhrama é a “Consciência Absoluta”. Ou, finalmente, alinhando-se entre os Svâbhâvikas do Nepal sustenta que nada existe a não ser ‘Svabhavat”(substância ou natureza) que existe por si mesma sem ter nenhum criador - qualquer dessas concepções só pode levar à Teosofia pura e absoluta. A essa mesma Teosofia que induziu homens como Hegel, Fichte e Espinoza a retomarem o trabalho dos velhos filósofos gregos e a especular sobre a Substância Una - a Divindade, o Todo Divino oriundo da Sabedoria Divina - incompreensível, desconhecido einominável - por intermédio de qualquer filosofia religiosa antiga ou moderna, com exceção do Cristianismo e do Islamismo. Consequentemente, o Teosofista, apegando-se à uma teoria da Divindade que “não tem revelação mas, sim, uma inspiração pessoal como base”, pode aceitar qualquer das definições acima ou pertencer a qualquer dessas religiões e, no entanto, permanecer estritamente dentro dos limites da Teosofia. Porque Teosofia é crença na Divindade como o TODO, fonte de toda existência, o Infinito que não pode ser nem compreendido nem conhecido, pois somente o Universo A revela, ou, como outros preferem dizer, O revela, atribuindo sexo àquilo que uma vez antropomoforfizado constitui umablasfêmia. Na verdade, a Teosofia afasta-se da materialização brutal; prefere acreditar que de uma eternidade recolhida no interior da mesma o Espírito da Divindade não deseja nem cria; mas que, da resplandecência infinita e onipresente tudo procede do Grande Centro, e o que produz todas as coisas visíveis e invisíveis é apenas um Raio que contém em si mesmo o poder gerador e criador que, por sua vez, produz aquilo a que os gregos chamavamMacrocosmo, os kabalistas Tikkun, ou Adão Cadmon - o homem arquétipo - e os arianosPurusha, o Brahman manifestado ou o Macho Divino. A Teosofia acredita igualmente naAnastasis ou existência contínua, e na transmigração (evolução) ou numa série de transformações da alma que pode ser defendida e explicada pelos mais rígidos princípios filosóficos; e faz somente uma distinção entre Paramâtma (alma suprema, transcendental) eJivâtma (alma animal ou consciente) dos Vedantinos.
            Para definir completamente a Teosofia devemos considerá-la sob todos os seus aspectos. O mundo interior não permaneceu oculto aos olhos de todos por uma treva impenetrável. Através da intuição superior adquirida pela Theosophia - ou conhecimento de Deus - que transporta a mente do mundo da forma ao do espírito sem forma, o homem, às vezes, conseguiu em todas as épocas e em todos os países, perceber coisas existentes no mundo invisível. Daí o “Samadhi”, ou Dyan Yog Samadhi dos ascetas hindus; a Daimonion-photi, ou iluminação espiritual dos Neoplatônicos; a “confabulação sideral das almas”, dos Rosa Cruzes ou filósofos do fogo; e até mesmo o transe estático dos místicos e dos modernos mesmeristas e espíritas são idênticos em natureza, embora diferentes em manifestação. A procura do “Ego” divino do homem, tão freqüentemente e tão errrôneamente interpretado como um Deus pessoal, sempre foi o objetivo de todos os místicos, e a crença na sua possibilidade parece coeva com a gênese da humanidade - cada povo dando-lhe um nome diferente. Assim, Platão e Plotino chamam de “Trabalho Noético” àquilo e a que os Yoguins e os Srotriya dão o nome de Vidya. “Pela reflexão, autoconhecimento e disciplina intelectual a alma pode ser transportada à visão da verdade eterna, da bondade e da beleza - isto é, à Visão de Deus - e isso é a “epoptéia”- afirmavam os gregos.
            “Unir a alma individual à Alma Universal” - diz Porfírio - “exige uma mente inteiramente pura. Pela autocontemplação, castidade perfeita e pureza corporal podemos aproximarmo-nos d’Ela, e receber, nesse estado, o verdadeiro conhecimento e uma visão maravilhosa”. E Swami Dayânand Saraswati, que nunca leu Porfírio nem qualquer dos autores gregos mas é um profundo conhecedor dos Vedas, afirma no seu Veda-Bâshya(upâsâna prakara ank. 9): “Para conquistar Disksha (as iniciações superiores) e Yog, o homem precisa agir segundo as regras... A alma humana pode realizar as maiores maravilhas pelo conhecimento do Espírito Universal (ou Deus) e identificar-se com as propriedades e qualidades (ocultas) de todas as coisas do Universo. Um ser humano (um Dikshita ou iniciado) pode, assim, adquirir o poder de ver e ouvir a grandes distâncias”. Finalmente, Alfred R. Wallace, que além de espiritualista é reconhecido como um grande naturalista, afirma com corajosa candura: “É somente o espírito que sente, percebe e pensa - que adquire conhecimento, argumenta e aspira... e não raro surgem indivíduos constituídos de tal forma que o espírito pode perceber independentemente dos órgãos físicos dos sentidos, ou podem, talvez, abandonar o corpo total ou parcialmente por algum tempo e a ele regressar novamente... o espírito... comunica-se com o espírito mais facilmente do que com a matéria”. Agora podemos verificar, após milhares de anos decorridos entre a era dos Ginosofistas e a nossa era altamente civilizada e apesar, ou talvez exatamente por isso, como essa iluminação derrama sua luz radiosa sobre os reinos psicológicos e físicos da Natureza, sobre os milhões que hoje acreditam, de modos diferentes, nos mesmos poderes espirituais aceitos pelos Ioguins e Pitágoras há quase três mil anos. Assim, enquanto o místico ariano pretende possuir o poder de resolver todos os problemas da vida e da morte desde que tenha conquistado o poder de agir independentemente do próprio corpo através deAtman - o “ego” ou “alma”; e enquanto os antigos gregos buscavam a Atmu - o Oculto, ou a Alma-Deus do homem, com o auxílio do espelho simbólico dos Mistérios Thesmophóricos; - da mesma forma os espíritas de hoje acreditam na faculdade que possuem os espíritos ou as almas dos desencarnados de se comunicarem visível e tangivelmente com os entes queridos da terra. E todos eles, Ioguins arianos, filósofos gregos e espíritas modernos sustentam essa possibilidade baseados em que a alma corporificada e seu nunca corporificado espírito - o verdadeiro ego - não estão serparados da Alma Universal nem dos outros espíritos do espaço a não ser pela diferenciação das respectivas qualidades, uma vez que na expansão ilimitada do Universo não pode existir nenhuma limitação. E quando removida essa diferença - seguindo os gregos e arianos pela libertação temporária da Alma aprisionada, e de acordo com os espíritas modernos pela mediunidade - é possível essa união entre os espíritos corporificados e os desencarnados. É por isso que os Ioguins Patanjalis e, seguindo suas pegadas, Plotino, Porfírio e outros Neoplatônicos afirmaram que durante suas horas de êxtase permaneceram unidos, ou melhor, tornaram-se unos com Deus por diversas vezes no decorrer de suas vidas. Esta idéia, errada como pode parecer na sua aplicação ao Espírito Universal, foi e ainda é sustentada por muitos dos grandes filósofos para que possa ser desprezada como inteiramente quimérica. No caso dos “Theodidaktoi”, o único ponto controverso, a mancha negra dessa filosofia de extremo misticismo foi sua pretensão de incluir o que é simplesmente a iluminação estática sob o domínio da percepção sensória. No caso dos Ioguins, que se diziam capazes de ver Ishvara “face a face, essa pretensão foi cabalmente desmentida pelo lógica severa de Kapila. E quando a idêntica presunção sustentada por seus seguidores gregos, por grande número de místicos cristãos e, finalmente, pelos dois últimos pretensos “Videntes de Deus” dos derradeiros cem anos - Jacob Boehme e Swendenborg - tal pretensão seria e deveria ser filosófica e logicamente discutida se alguns dos nossos grandes homens de ciência que são espíritas tivessem demonstrado mais interesse pela filosofia do que pelo mero fenomenalismo registrado no Espiritismo.
            Os Teosofistas alexandrinos dividiam-se em neófitos, iniciados e mestres, ou hierofantes; e suas regras foram copiadas dos antigos Mistérios de Orfeu que, segundo Heródoto, foi buscá-los na Índia. Amônio Saccas obrigava seus discípulos mediante juramento a não revelar seus ensinamentos superiores exceto aos que fossem comprovada e absolutamente dignos e iniciados que tivessem aprendido a encarar os deuses, anjos, e os demônios de outros povos de conformidade com a “hypnoia” esotérica, ou significado interno. “Os deuses existem, mas não são o que a hoi poloi, a massa ignorante, supõe que sejam” - afirma Epicuro, acrescentando: “Não é ateu aquele que nega a existência dos deuses adorados pela multidão mas, sim os que atribuem a esses deuses as opiniões da multidão”. Por sua vez, Aristóteles declara que, “da Essência Divina que interpenetra todo o mundo da natureza o que chamam de deuses são simplesmente os princípios originais”.
            Plotino, discípulo do “Theodidaktos”Amônio Saccas, diz-nos que o segredo da “Gnose”, ou o conhecimento da Teosofia, abrande três etapas: - opinião, ciência eiluminação. “O meio ou instrumento da primeira é o sentido, ou percepção; da segunda, a dialética; da terceira, a intuição; A Razão está subordinada a esta última; é o conhecimento absoluto fundado na identificação da mente com o objeto conhecido”. A teosofia é, por assim dizer, a ciência exata da Psicologia; mantém-se relativamente à mediunidade natural não cultivada da mesma forma que os conhecimentos de um Tyndall se comparados aos de um estudante de Física. Desenvolve no homem um comportamento direto; aquilo a que Schelling chama “uma realização da identidade do sujeito e objeto com o indivíduo”; por isso, sob a influência e o conhecimento da hypnoia o homem alimenta pensamentos divinos, vê todas as coisas como elas realmente são e, finalmente, “transforma-se num recipiente da Alma do Mundo”, para usar de uma das mais belas expressões de Emerson. “Eu, o imperfeito, adoro meu próprio Perfeito”- diz ele no seu magnífico ensaio A Super-Alma. Além desse estado psicológico, ou estado-alma, a Teosofia cultivou todos os ramos das ciências e das artes. Manteve-se completamente familiarizada com o que hoje é geralmente conhecido como Mesmerismo (hipnotismo). A Teurgia prática ou “magia cerimonial” a que o clero Católico Romano recorre tão freqüentemente nos seus exorcismos - foi desprezada pelos Teosofistas. Jâmblico foi o único que transcendendo aos demais Ecléticos acrescentou à Teosofia a doutrina da Teurgia. Quando, ignorante do verdadeiro significado dos símbolos esotéricos e divinos da Natureza o homem é levado a avaliar erroneamente os poderes de sua própria alma e, ao invés de comunicar-se espiritual e mentalmente com os seres celestiais superiores, os espíritos bons (os deuses dos Teurgistas e da escola Platônica), estará inconscientemente invocando os poderes maléficos, os poderes das trevas que vivem emboscados ao redor da humanidade - as imperecíveis e sinistras criações dos crimes e vícios humanos - e assim passa da Teurgia (magia branca) à Goecia (magia negra ou feitiçaria). No entanto, nem a magia branca nem a negra são o que a superstição popular compreende por essas expressões. A possibilidade de “invocar espíritos” de acordo com a chave de Salomão é o cúmulo da superstição e da ignorância. A pureza de atos e pensamentos é a única que nos pode levar a um intercâmbio “com os deuses” e conquistas para nós o desejado ideal. A Alquimia, encarada por muitos como uma filosofia espiritual ou como uma ciência física, pertencia aos ensinamentos da escola Teosófica.
            É um fato notável que nem Zoroastro, nem Buda, Orfeu, Pitágoras, Confúcio, Sócrates ou Amônio Saccas transmitiram à escrita seus ensinamentos. E é óbvia a razão dessa atitude. A Teosofia é uma arma de dois gumes inadequada para o ignorante ou o egoísta. Como todas as velhas filosofias tem seus adeptos entre os modernos; mas, até recentmente seus partidários eram poucos numerosos e pertencentes as mais varias seitas e opiniões. “Inteiramente especulativa e sem fundar escolas, seus adeptos exerceram silenciosa influência sobre a Filosofia; e não há dúvida de que, chegado o momento, muitas das idéias assim expostas silenciosamente podem oferecer novos rumos ao pensamento humano”. - observa Kenneth R.H. Makenzie, um místico e teosofista na sua grande e valiosa obra, The Royal Masonic Cyclopaedia (artigos sobre “A Sociedade Teosófica de Nova Iorque” e ‘A Teosofia”). Desde os dias dos filósofos do fogo os Teosofistas jamais se reuniram em sociedades porque, caçados como animais ferozes pelo clero cristão, o fato de ser conhecido como Teosofistas quase sempre equivalia, ainda há um século, a uma sentença de morte. As estatísticas mostram que num período de 150 anos nada menos de 90.000 homens e mulheres foram queimados na Europa sob a acusação de prática de feitiçaria. Na grã-Bretanha, de 1640 a 1660, isto é, em apenas vinte anos, 3.000 pessoas foram condenadas à morte acusadas de pacto com o ‘Demônio”; e foi somente no último quartel deste século - em 1875 - que alguns místicos e espíritas progressistas, insatisfeitos com as teorias e explicações do Espiritismo redigidas pelos seus adeptos, e julgando que as mesmas estavam longe de cobrir todo o campo da enorme área dos fenômenos, formavam longe de cobrir todo o campo da enorme área dos fenômenos, formaram em Nova Iorque uma associação hoje largamente conhecida como Sociedade Teosófica. Assim, tendo explicado o que é a Teosofia, pretendemos, em outro artigo, explicar a natureza de nossa Sociedade, também chamada “Fraternidade Universal da Humanidade”.

            Tradução de M. P. Moreira Filho.

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